quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Resenha: Auto da Compadecida - Ariano Suassuna

Título: Auto da Compadecida
Autor: Ariano Suassuna
Editora: Nova Fronteira
Gênero: Teatro
Ano de publicação: 1955
Ano da edição: 2018
Páginas: 206

Auto da Compadecida é um peça de teatro publicada em 1955 pelo escritor paraibano Ariano Suassuna. Encenada pela primeira vez em 1956, em Recife, Pernambuco, ajudou a projetar o autor nacionalmente. Em 1962, o crítico teatral Sábato Magaldi considerou a obra como "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro".

Trata-se de uma peça em forma de auto, do gênero dramático, ambientada na região Nordeste do Brasil.


João Grilo e Chicó

Matheus Nachtergaele e Selton Mello como João Grilo e Chicó

A história é protagonizada por João Grilo e Chicó, dois rapazes pobres do sertão nordestino que, para sobreviver em meio a pobreza, usam de tramoias e astúcias para conseguir dinheiro.

O nome de João Grilo foi inspirado no herói do romance de cordel "As Proezas de João Grilo", de João Martins de Athayde e em um vendedor de jornais que Ariano Suassuna conheceu, cujo apelido também era João Grilo. Posteriormente, o autor descobriu que em Portugal existia um herói picaresco com o mesmo nome.

João Grilo é um herói picaresco. Diferente dos heróis convencionais que se comportam de forma exemplar e altruísta, João Grilo engana e trapaceia para sobreviver.

Na literatura há outros heróis picarescos, como Pedro Malazarte, uma figura popular tanto na cultura brasileira como portuguesa, conhecido na Península Ibérica como Pedro Urdemales. Na Espanha, há o Lazarillo de Tormes; na Commedia dell'Arte europeia, há o Arlequim. Todos esses personagens têm em comum a esperteza e o hábito de trapacear, como uma forma de sobrevivência em meio à miséria e violência. As vítimas de suas  trapaças e pegadinhas são, geralmente, ladrões, bandidos, burgueses ricos e autoridades, inclusive religiosas.

O companheiro de João Grilo em suas tramoias é Chicó, um rapaz ingênuo e inofensivo, porém com o costume de contar histórias mirabolantes. Ele sempre conclui suas narrativas com o bordão "Não sei, só sei que foi assim". Chicó foi inspirado em uma pessoa que Ariano conheceu em Taperoá, que também gostava de contar histórias inverossímeis. Assim como João Grilo remete ao Arlequim da Commedia dell'Arte europeia, Chicó pode ser comparado ao Pierrot.


Os Atos da Peça

A peça é dividida em três atos:

1. Primeiro Ato: Inspirado no folheto de cordel "O dinheiro" de Leandro Gomes de Barros. Conta a história do cachorro que morre e João Grilo convence o padre a rezar uma missa em latim para o animal, dizendo que ele deixou uma herança.

2. Segundo Ato: João Grilo vende um gato à Mulher do Padeiro, dona do cachorro, afirmando que o gato "descome" dinheiro. Este ato foi inspirado no romance de cordel "História do Cavalo que Defecava Dinheiro", de Leandro Gomes de Barros.

3. Terceiro Ato: Os personagens estão mortos e enfrentam um julgamento final, no qual terão seu destino decidido entre o céu e o inferno. João Grilo pede para intercessão de Nossa Senhora, "A Compadecida". Este ato foi inspirado na obra popular de cordel "O Castigo da Soberba", recolhido por Leonardo Mota e Anselmo Vieira de Sousa.


Impressões de leitura

A peça utiliza uma linguagem simples, próxima da oralidade nordestina, buscando representar a classe social dos personagens.

Ariano faz uma sátira social, criticando a hipocrisia da sociedade, incluindo a igreja, que também está sujeita à corrupção e aos pecados morais. Ao mesmo tempo, Suassuna celebra o Nordeste, com suas tradições, cultura e crenças. 

A peça mistura elementos da tradição popular nordestina, da literatura de cordel, das tradições católicas e da Commedia dell'Arte europeia. 

Apesar da linguagem acessível e de ser uma obra de leitura rápida, Auto da Compadecida é uma obra rica em significados e repleta de referências culturais. É uma obra fundamental da literatura brasileira.


Adaptações para o Cinema

João Grilo e Chicó foram imortalizados no cinema por Matheus Nachtergaele e Selton Mello no filme de 2000, dirigido por Guel Arraes. O eixo central do filme é baseado na obra Auto da Compadecida, mas também possui elementos de outras obras de Ariano Suassuna, como O Santo e a Porca, Torturas de um Coração e A Pena e a Lei.

Lançado originalmente como uma minissérie em 1999 pela TV Globo, foi adaptado para o cinema em 2000 tornando-se o filme brasileiro de maior bilheteria daquele ano.

Além desse filme, também há outras duas adaptações da obra para o cinema, "Os Trapalhões no Auto da Compadecida" (1987), dirigido por Roberto Farias e protagonizado pelos Trapalhões. E "A Compadecida" (1969), com direção de George Jonas e roteiro de Ariano Suassuna e George Jonas, protagonizados por Regina Duarte, Armando Bógus e Antônio Fagundes.

Em 25 de dezembro de 2024, 25 anos após o primeiro filme, será lançado o filme "O Auto da Compadecida 2", com Matheus Nachtergaele e Selton Mello em seus icônicos papéis de João Grilo e Chicó, vivendo novas aventuras.


Trailer de O Auto da Compadecida 2

Leia também:

⇒ Literatura de cordel: o que é, origens e principais cordelistas

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